“A inquietação começou depois de duas décadas juntos, quando sentimos que já era hora de ter nosso primeiro filho. Eu mineirinha, Pepe chileno, ambos arquitetos, morávamos na zona sul carioca e nos dedicávamos com foco total à nossa profissão.

Em abril de 2014 nasceu León, hoje com 4 anos! Com ele, veio também uma transformação. Uma mudança de planos. A prioridade passou a ser a criação da nossa família, queríamos acompanhar de perto o crescimento do nosso filho. A bússola nos orientou para a Patagônia chilena, lugar que anos antes havia nos conquistado. No mesmo ano, partimos do Rio com destino a Futaleufu, Patagônia verde, região dos lagos, sul do Chile. Carregamos conosco o máximo de pertences que cabiam num voo internacional. E mais nada. A ideia era experimentar outro estilo de vida, simples e desapegado, em contato com a natureza exuberante local.

Logo percebemos que aqui o tempo é outro. Ainda há espaço para contemplar as paisagens, inventar nossos próprios brinquedos, visitar amigos e contar histórias. E a arquitetura continua sendo parte da nossa vida. O León é um pequeno aprendiz em todos os sentidos. Ele acompanha tudo: vem junto buscar madeira no bosque (porque nossa calefação é feita com madeira); cuida de suas galinhas e gatos; participa da tosa de ovelhas; vai à obra conosco; percebe a relação entre a quantidade de sol e a energia disponível para cada dia (usamos energia solar); corta gravetos para o fogão (nosso fogão é a lenha); percebe o crescimento e condição das águas depois de um degelo (a água da nossa casa vem de um riacho que nasce na cordilheira); reconhece os diferentes tipos de árvore; procura no céu e escuta os diferentes cantos dos pássaros… E mais um montão de coisas relacionadas à rotina de construir ao dia a dia da natureza. E tem também a escola, que é um belo projeto de educação alternativa numa fazenda próxima.  

A experiência patagônica tem sido mesmo um grande aprendizado para nós três. O valor das coisas mais simples reforçaram conceitos de vida que são extremamente importantes no nosso vocabulário familiar: a lenha, o fogo, o mate, os animais, o fazer, a terra, a colheita, a água, o construir, as quatro estações, o pensar, o esperar, a natureza. A cultura gaúcha traz um grande respeito à natureza. E nos estimula a criar soluções rústicas e inteligentes –  próprias de lugares extremos, onde não está tudo à mão.

Há ainda o convívio e o carinho das pessoas que nos acolheram, de famílias que corajosamente desbravaram essa gigantesca cordilheira e se estabeleceram por essas bandas. A cada dia essa troca fundamental nos alimenta e proporciona um prazer imenso de estar nessa parte do mundo onde a natureza é soberana.”