“Do Rio de Janeiro, Carrancas (sul de Minas Gerais) fica 1h30 depois de Tiradentes, num total de 421km. Não fomos direto. Tiramos uma semaninha em janeiro, pegamos a estrada – eu, marido e filhos: Daniel (11 anos) e Marina (7) – e demos uma parada de três dias em Tiradentes. Seguimos para Carrancas depois, onde ficamos quatro dias, com o maior gostinho de quero mais. A cidade já é bem explorada por turistas em busca de sossego e viagem natureza, mas notei que muita gente nunca ouviu falar. Os “locais” se orgulham em lembrar que as belas paisagens, entre grutas, montanhas e cachoeiras, já viraram cenário de novelas filmadas por lá (“Império” e “O fim do Mundo”, da TV Globo, são dois exemplos).

Há todos os tipos de passeios, com níveis diferentes de dificuldade. Alguns, de fato, não indicadas para crianças. Mas os possíveis são lindos, na medida para deixar aquele quê de aventura para os pequenos e encantar os adultos. Marina, a caçula, conseguiu acompanhar tudo: caminhadas, subidas, pedras escorregadias, águas ultrageladas, tênis ensopado… Claro que o “tá chegando?” e “tem um biscoitinho aí?” fazem parte da trilha sonora. Mas, em um balanço geral, saímos ganhando todos, com cachoeiras revigorantes. No primeiro dia, fomos para o Complexo da Zilda. Você chega de carro bem pertinho do escorrega natural que fez o maior sucesso. Sobe agarrado em uma corda e desce a pedra, caindo direto no poço, um barato! Uma caminhada curta e chega-se do outro lado da Zilda, com uma cachoeira cheia de poços e terra, formando prainhas. Delícia total. Dá para andar mais e descobrir outros poços, atravessando um rio com quedas d’água que foi, digamos, a grande aventura em família: um dando a mão pro outro, com momentos de água na cintura, correnteza, joelhos ralados… Até agora não sei se pegamos um caminho errado, mas achamos melhor desistir em um certo momento e voltamos tudo. História para contar! Já havíamos aproveitado bastante, três horas em pequenas trilhas, água gelada e muito sol. Sentamos na “praia” e fizemos um lanchinho. Importante levar na mochila água, biscoitos, uma fruta… Esqueci de mencionar que há pinturas rupestres nesse complexo, outra atração interessante.

No dia seguinte, paramos para ver a cachoeira da Fumaça (o nome mais popular pra um cachoeira, certo?), que não dá para tomar banho – apenas apreciar. Você chega de carro até ela, vale a pena uma parada. E partimos em seguida para a Esmeralda, que como o nome sugere, são diversos poços verdinhos, lindos! Você nada até o outro lado e aproveita as quedas. Depois continua, caminha mais um pouco e o que se vê são muitas pedras, cursos, corredeiras, rios e diversas piscinas naturais. Para relaxar e aproveitar o dia! Nos caminhos de carro para chegar e voltar, sempre generosas paisagens das montanhas de Minas.

Visitamos ainda, em outro dia, a gruta que fica no terreno ao lado de onde estávamos hospedados, com lanternas em mãos e a companhia de Toti e Nina, dois cachorros que moram na pousada. Depois, bem pertinho, tem a cachoeira do Moinho, que parece uma miniesmeralda e surpreende quando se entra na água, com uma vista de quedas e pedras.

O centrinho de Carrancas é típico de cidade pequena, com uma praça com igreja (claro!) de pedra, alguns restaurantes, um comércio com supermercado, padaria, farmácia… Conhecemos o Recanto Bar (difícil não conhecer, acho que o mais famoso, quase sempre aberto, bom para almoçar tarde depois das cachoeiras, com opções diferentes – de petiscos a quilo). Adorei o Uai Tchê, onde comemos um bom lombo completo, e fiquei com pena de não termos conseguido o Mirante da Serra, o restaurante de uma pousada com uma vistão do alto. Fomos até lá em uma quinta-feira, dia de funcionamento normal, mas a cozinheira estava de folga (!), sô.

Fica também a dica da pousada: Céu e Serra. Tudo muito simples (mesmo), combinando com a atmosfera da cidade, em uma pegada holística. Chalezinho com rede na varanda, café da manhã e da tarde com bolinhos, geleia e pão feitos na casa, dá para pedir pizza à noite e nem sair da pousada num estilo tô em casa, e uma programação diária, bem solta para quem quiser. Teve oficina de origami, meditação, vista de pôr-do-sol, exibição de um documentário (em uma espécie de templo que tem no lugar) sobre um presidiário que mudou a vida com os benefícios da yoga. Em alguns dias, há passeios guiados por Palash, o dono da pousada (nós íamos ao Grão Mogol com ele, mas amanheceu chovendo um pouco e acabou cancelado).

A cidade, aliás, conta com agências que oferecem guias, atividades com esporte radical, eco-turismo, turismo rural… Tem trilhas e passeios que só podem ser feitos com guia (como esse de Grão Mogol). Para nós, ficou para uma próxima vez, o que certamente vai acontecer”.