“Trocar a Austrália, mais precisamente a cidadezinha de Ballina (perto de Byron Bay e Brisbane) pela ilha de Kauai, no Havai? Todos nos perguntavam o porquê dessa mudança e a verdade é que Sam, meu marido, sonhava viver um tempo aqui. Ele trabalha com investimentos, o que permite estar na ativa em diferentes lugares do mundo. A casa é o seu escritório. E ama surfar. Seu pai era americano, morava na Austrália perto da gente, e sonhava se aposentar e mudar para cá. Mas faleceu há cinco anos e resolvemos então fazer essa aventura, quase como uma homenagem a ele.  

Nós moramos no North Shore do Kauai, em um lugar chamado Princeville. Viemos há dois anos. Pode parecer uma ideia um tanto ousada trocar a tranquilidade da Austrália por uma vida mais selvagem, em uma cidadezinha onde o surf dita o ritmo de vida da população. Mas foi uma das escolhas das mais acertadas. Estamos no paraíso. Consegui trabalhar como assistente de professora na escola, de 7h30 às 11h30, o que me dá uma tranquilidade para curtir os pequenos.

Giselle tem 11 anos e está na quinta série. Shannon tem 9 e está na terceira. A escola fica a uns 10 minutos de carro da nossa casa. Ela é localizada em Hanalei, chamada Hanalei Elementary (vai do jardim-kindergarten à sexta série). É conhecida como uma das escolas com a vista mais linda do mundo, montanhas maravilhosas ao seu redor. Realmente, o local é impressionante, tem horta, espaço, muita natureza.

Vale contar ainda que o “uniforme” deles não poderia ser mais informal: aqui praticamente só se usa chinelo! As crianças jogam futebol no recreio descalços, no gramado. Também não se entra na casa de ninguém com sapato – regra oficial que demonstra o clima relax e o astral havaiano.

A escola começa às 7h45 da manhã e termina às 2h05 (na quarta eles saem 12h30). Foi um pouco complicado no começo, pois na Australia eles iam estudar às 9h. Mas rapidamente se acostumaram. E tem suas compensações, já que saem mais cedo e dá tempo de surfar bastante depois do “expediente”! A escola  – que segue o padrão americano – também oferece ‘after school programs’, que se iniciam logo depois do horário às 2h15 e terminam às 3h15m. E as aulas são de yoga, esportes, ukulelê, teatro, corte e costura, xadrez, jewelry making (oficina de bijuterias), mandala, etc. Uma delicia, bem relax. Sexta-feira é conhecida como ‘Aloha Friday.’ E o costume é a galera ir à praia no fim de tarde, assistir ao pôr do sol e fazer um piquenique… E, claro, surfar e se divertir com amigos até a noite chegar. O clima desses encontros é uma delícia, uma confraternização, alto astral. É essa a imagem que tenho do Havai.

Os programas com crianças no Kauai não têm nada a ver com o estilo de vida americano, já que são mais voltados para explorar a natureza exuberante do local. Aqui não temos shoppings, nem mesmo muitas opções de lojas e entretenimentos para os pequenos – ou adultos! Para se divertir, as crianças adoram explorar e se aventurar. Fazem caminhadas até cachoeiras, montam cabanas na praia, surfam com amigos, brincam nos rios e pescam. Todos aprendem – e se acostumam – a valorizar experiências mais do que bens e consumo. Até tem um cinema na ilha, mas que fica longe da nossa casa. Às vezes vamos e vira um programa diferente, especial. É tudo muito diferente e muito natural.

Giselle faz parte de um clube do livro na biblioteca de Princeville, que se encontra toda quarta feira à tarde. O grupo é coordenado por uma estudante da High School (segundo grau). Já Shannon joga futebol duas vezes por semana depois da escola. Ele também surfa direto com o pai, que é assíduo nas ondas. E eu e Sam somos craques na ioga, que fazemos quase que diariamente em um estúdio perto de casa.

A vida no Kauai é simples, relaxante, mas aqui vemos que estamos criando crianças livres, felizes e soltas. É um lugar super seguro, onde eles podem ir de bicicleta para casa de amigos, conquistar autonomia e confiança desde muito cedo O surfe na praia de Hanalei Bay é uma instituição e um verdadeiro playground infantil, já que é bem protegido para os pequenos.

Nas férias de verão, junho e julho, o governo oferece um curso de salva-vidas para as crianças, onde eles aprendem sobre correnteza, como ajudar alguém em perigo etc. As aulas são gratuitas e dadas in loco, na praia, por uma semana. Uma sacada – porque os pequenos começam a se virar e se proteger desde cedo no seu habitat natural, o mar, a areia e as ondas.

Em pouco tempo, nos adaptamos completamente e nos sentimos locais. A ideia é voltar para a Austrália, pois queremos que eles façam a escola secundária lá. Mas será triste deixar esse paraíso. Aloha”