Em 2013, os jornalistas paulistas Tatiana de Araújo Barbosa e Henry Ajl decidiram trocar São Paulo pela Patagônia Chilena. Se mudaram com dez malas, o filho Thomás – que tinha acabado de fazer 2 anos – e uma vontade louca de experimentar outra oitava, revolucionando profundamente as estruturas “seguras” que conduziam sua vida na cidade grande. Compraram uma fazenda na região de Futaleufu e, meses depois,  a Pata (www.pata.cl) já tinha virado um projeto de conservação (com cultivo orgânico de alimentos e replantio de espécies nativas) e contava com quatro sócios que toparam entrar de cabeça nessa mega aventura.

_  Viemos nós três, eu, Henry e Tom, para colocar a mão na massa, o que significava restaurar uma terra abandonada às margens do rio Futaleufu, localizado na região verde e abundante da Patagônia Norte. Tínhamos que implantar toda a infraestrutura sustentável para os 102 hectares, e começar a construir, tijolo por tijolo, o Pata Lodge (@pata.patagonia) _ lembra ela. 

Antes de ir, Tati teve uma reunião na escola de Tom, em São Paulo, a Estilo de Aprender, para contar que ele não completaria o ano letivo porque estavam de mudança para a Patagônia. “Patagônia?”, o dono da escola perguntou. “Mas como? O que vão fazer por lá?”. Bem, ele tinha mordido a isca. Marcelo Bueno e a esposa, Gabi, desembarcaram em Futa 15 dias depois e foram um dos primeiros colaboradores da Pata. 

_ Desde então, Marcelo é nosso orientador, parceiro e entusiasta para temas relacionados à educação _ revela ela.

Quando Thomás tinha idade para sair do Jardim de Infância e entrar na escola pública de Futaleufu, uma inquietude dominou a família. O ensino local não comungava com os valores básicos de viver em contato direto com a natureza e trazer as maravilhas deste entorno selvagem para dentro da sala de aula. 

_ A arte, o brincar e uma infância vivida em sua potência máxima eram conceitos que fazíamos questão de oferecer aos nossos filhos. Levamos alguns meses para decidir o que fazer e reunir a coragem necessária para colocar energia nesta nova jornada. Comecei a atrair algumas mães que pensavam parecido. Minha querida amiga brasileira, arquiteta e mãe do Leon, Daniela Soares (veja aqui) foi desde sempre uma grande parceira _ conta Tati.  

Aos poucos, criaram uma rotina de atividades lúdicas para as crianças, como um “homeschooling” em grupo. Enquanto isso, Tati tentava encontrar um professor disposto a topar a aventura patagônica.  

_ Alguns meses antes, Marcelo Bueno tinha vindo visitar a fazenda com sua mãe, Wanda. Ela, aposentada, educadora de mão cheia, seria a pessoa perfeita. Conversando com ele via skype, decidi arriscar fazer o convite para que esta senhora de 70 anos deixasse seu conforto paulistano e viesse morar aqui na Patagônia, nos ajudando a erguer a escola. Ela aceitou sem pestanejar  e, em 15 minutos, compramos as passagens _ lembra Tati. 

E assim, tudo começou. A escola se chama “Árbol de la Vida” e o nome é resultado de reflexões profundas acerca dos caminhos que essa pequena comunidade nos confins da Patagônia chilena vem trilhando.  

_  Hoje, temos cinco professores, uma delas é a Thais Faria, nossa coordenadora, e 13 alunos, dos quais três são nossos filhos, Thomás, com 8 anos, Sofia, 4, e Gabriel, 2, muito bem vividos. Dois são filhos de um dos sócios, o empresário Marcelo Schaffer, que também veio de mala e cuia, há dois anos, com a família (a esposa é a designer Cristiane Lacerda, a Biju)  _ diz ela.

Recentemente, Tati explica que tiveram uma experiência com a pedagogia Waldorf – e descobriram ser peça fundamental para criar uma rotina lúdica e acolhedora para as crianças. Hoje, a escola tem uma classe de jardim de infância e duas de fundamental, ambas com idades mescladas. A semana é organizada com incursões pela horta, passeios pelo bosque, marcenaria, aulas de música, trabalhos manuais e culinária. Os pequenos cozinham todos os dias e o ritual do almoço é compartilhado por todos (no Quincho, um galpão construído no estilo Patagônico em madeira, acabamento de “tejuela”, tipo escamas), com muito carinho. As  turmas agora vão até o quarto ano do fundamental, mas a ideia é crescer aos poucos, acompanhando a idade das crianças. 

_  Avançamos passo a passo nesta que é, com certeza, uma das jornadas mais desafiadoras (e recompensantes) da nossa intensa e incrível vida patagônica _ reflete ela.