“Depois de um ano lutando contra um joelho que não me deixava mais correr minhas maratonas pelo mundo e a perspectiva de uma nova década que chegou me apavorando, resolvi realizar um sonho antigo. Sempre tive vontade de visitar o Machu Picchu, mas queria chegar a pé. Não imaginava como, mas queria. Foi aí que, depois de muita pesquisa, descobri a Trilha Salkantay: uma caminhada de 5 dias contornando por uma das montanhas mais altas do Peru. Resolvi que, além da mochila e todo o equipamento necessário, eu iria levar comigo nada menos que Pietro, meu filho de 13 anos, um aventureiro por natureza (Ufa, ainda bem).
Depois de quase enlouquecer o pai de preocupação, comprar mochilas, botas, bastões, lanternas, sleeping bags, medicamentos e todo o kit de sobrevivência, pedir permissão ao pediatra, encher o rapaz da agência de viagens de perguntas, comprei minhas passagens, preparei meu filhote que havia voltado da colônia de férias e voilà! Pé na estrada. O voo foi para Cuzco, onde ficamos dois dias fazendo aclimatação de altitude, tomando muito chá de coca e Sorochi Pills (medicamento local contra o mal da montanha). E, na madrugada do terceiro, precisamente às 4h da manhã, encontramos com nosso grupo de 17 jovens, de todas as partes do mundo e com todos os tipos de preparo para encarar essa aventura.
Depois de duas horas de viagem de ônibus e café da manhã na estrada, o motorista nos larga em uma pirambeira daquelas e lá estávamos nós, andando, subindo, subindo, subindo, sofrendo, e amando de paixão cada pedacinho de terreno por onde passávamos. Descobri que as paisagens no Peru possuem uma beleza encantadora, que fala com a gente de tão forte e selvagem. Montanhas enormes, céu de um azul resplandecente, rios estrondosos com suas correntezas assustadoras nos acompanhavam por toda a trilha.
Foram 5 dias de caminhada, de 5 a 8 horas por dia, dormindo no sleeping bag em uma barraca de dois, se lavando com lencinhos umedecidos (ainda bem que eles existem), fazendo o ritual do chá de coca logo cedo, tomando a sopa quentinha antes do almoço e jantar, trocando ideias e risadas com pessoas de tão diferentes culturas: impossível esquecer cada um desses momentos. Tiveram ainda os jogos de cartas com o Pietro à luz do lampiãozinho da Decathlon dentro da barraca, com direito a piscinas aquecidas vulcânicas no fim do dia e uma tirolesa de 1km a 300m de altura. Nem preciso dizer que o rapaz se esbaldou, todos queriam saber como ele foi para ali (era o mais novo do grupo, de longe!!) e, quando chegamos em Águas Callientes, na última noite, pude ver nos seus olhos que essa aventura ia nos unir para sempre. De um modo inexplicável.
Na manhã seguinte, o desafio a vencer foram os 3 200 degraus, no meio da mata, para alcançar Machu Picchu. Claro que, chegando lá, a mamãe teve uma crise de choro daquelas que todo mundo pára para olhar (“olha o mico, mamãe”). Mas tanta emoção vinha da exaustão e certeza que tinha conquistado uma proximidade minha – e só minha – com meu filho querido. Volto para casa com uma leveza interior, a sensação de que a vida pode e deve ser muito mais simples e só a superação de duros obstáculos nos deixa verdadeiramente realizados.
Isso me faz pensar que tenho que programar logo minha próxima aventura – dessa vez com a família inteira!”
Kit básico para uma aventura na selva
* Consultar o pediatra para montar uma necessaire completa.
*Pesquisar os melhores guias. Um site que Rina consultou para dicas foi o mochileiros.com
*Sacos de dormir confiáveis, que protejam das temperaturas baixas da montanha.
*Barraca – no caso, a empresa que organizou o passeio levava barracas e alimentos para as refeições.
*Bota bacana (o melhor é testar bem antes, para não fazer muitas bolhas). Prepare-se para caminhar de 18 a 22km por dia!
*Bastões de caminhada
*Lampeão que pode ser recarregado com bateria abastecida no computador.
*Lanterna de cabeça.
*Lanchinho prático: barrinhas de ceral, chocolate, passas e frutas secas, nuts.
*Mochila o mais leve possível e de boa qualidade.
*Sorochi pills e chá de coca – para o mal da montanha
Oi Rina, só podia ser a filha do homem mais querido e forte e da mulher mais delicada e bondosa,e diga~se de passagem, meus cumpadres, amigos e tios queridos que tive o privilégio de conviver por muitos anos e que guardo boas e lindas recordações! És realmente uma mulher corajosa e que não se contenta em viver simplesmente, mas que se joga inteira e ainda leva seu filho adolescente para experimentar e aprender a maravilhosa descoberta de viver intensamente as belezas da natureza! PARABÉNS e um forte abraço!
Amei a viagem e, quem sabe, um dia me aventuro por lá também. Antes disso, tenho que dar um jeitinho no meu quadril, que anda avariado. Belas fotos.