“Era o ano de 1993, talvez você nem tivesse nascido. Eu só queria saber de viajar, fazer mais amigos, viver grandes aventuras e conhecer lugares onde não havia turistas convencionais. Por isso, eu e minha turma fazíamos tudo a pé. Travessia Petrópolis-Teresópolis; travessia Aldeia Velha-Lumiar; travessia Itatiaia-Mauá; travessia Andarai-Lençóis. É sobre esta, na Chapada Diamantina, que vou contar. Saímos de ônibus rumo à Feira de Santana, na Bahia, eu e meu amigo Dalmo, um fera nas caminhadas, com mochilão, saco de dormir, fogareiro, três mudas de roupa, o tênis que estava nos pés, algumas latas e biscoitos, macarrão e sopinhas instantâneas, pouco dinheiro e uma alegria danada. Ficamos 15 dias na chapada Diamantina, destes, sete ilhados numa caverna, meio perdidos meio esperando a chuva dar trégua. Era fevereiro. A chuva passou, um morador apareceu, perguntamos como podíamos deixar o Vale do Pati rumo à Cachoeira da Fumaça e lá fomos nós. Meu pé estava com muitas feridas, bolhas enormes, que doíam. Na Fumaça, me separei de Dalmo: ele subiu a Cachoeira e eu peguei uma carona até Lençóis. Sofri por não conhecer a principal atração da região. E prometi pra mim mesma que em breve voltaria pra lá pra conhecer a Fumaça e rever todas aquelas belezuras.
Voltei, 24 anos depois. Com uma saudade imensa e uma expectativa maior ainda. Será que o lugar continuava lindo como na minha memória? Partimos nas férias de julho, eu e as crianças, nem mais tão crianças assim, Marina com 15 e Rodrigo com 11 anos, de mochilão, com três cobertores, orçamento contado e reserva num albergue. Um padrão muito diferente das nossas viagens anteriores em família, e muito parecido com o tempo em que eu era solteira, não tinha filhos, nem quilos a mais, nem preocupações ou temores.
Saímos do Rio rumo a Salvador, de avião (em 93, fui de buzum até Feira de Santana e de lá peguei outro buzum para Andarai, uma das cidades da Chapada). Em Salvador alugamos um carro e dirigi até Lençóis (cinco horas e meia de viagem). O albergue era uma delicia: quarto triplo só nosso com cama grande, banheiro grande no quarto, plantas na janela e muitos jovens. O café-da-manhã era à parte, o que acabou sendo ótimo: alguns dias comemos no albergue e pagamos 7 reais pela refeição, em outros explorávamos os cafés da cidade. Nos demos até ao luxo de comer na Casa da Geleia, um lugar com café incrível por R$ 30 (também funciona como pousada). Nossos amigos, Julio, Dani e Gabo, que já viajariam pra lá e então – oba! – nos juntamos, se hospedaram numa pousada cheia de charme com um café da manhã excelente também, tudo feito pelo casal de donos.
Nossos amigos contrataram um guia, nosso querido Eneas, e a gente se incluiu nos passeios: fizemos as cachoeiras todas próximas a Lençóis (Poço do Diabo, Mosquitos, Sossego, Serrano), vimos o pôr-do-sol no Pai Inácio (imperdível!), fizemos um passeio de barquinho pelo pantanal da Chapada. Andamos, andamos e andamos. Levávamos lanche pras cachoeiras e depois fazíamos uma única e barata refeição na volta dos passeios. Esquema econômico!
Depois de deixarmos Lençóis, fomos para o Vale do Capão, para visitar a Cachoeira da Fumaça. Demoramos três horas subindo, firmes, felizes (tinham dito que era uma trilha pesada demais pra gente), as crianças sem reclamar, os adultos cheios de disposição. Aha! E eu estava fazendo pela primeira vez aquela trilha com que sonhara durante anos e que eu havia pulado em 1993! E ainda fomos ao Poço Azul, rodamos por Mucugê, fomos à linda Igatu. E o esplendoroso Buracão. As crianças querem voltar à Chapada. Eu também. Só não vou esperar de novo mais 20 e poucos anos. Me aguardem porque na próxima vez faremos 5 dias de travessia a pé pelo Vale do Paty”.
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