Max & Leon no país da Terra Comunal
“Quando eu me programei para ir a São Paulo para ver a mostra Terra Comunal, o fiz também pensando em acompanhar os trabalhos que seriam desenvolvidos para a exposição. Junto ao meu parceiro, que é membro integrante de um coletivo de artistas selecionados para compor um dos espaços (o Grupo EmpreZa), meus filhos e eu fizemos um profundo mergulho nesse universo proposto por Marina Abramovic e seus convidados. Entre os ires e vires da casa do pai, que também mora em São Paulo, Max e Leon, de 4 e 6 anos, tiveram um cotidiano repleto de experiências ricas e sensoriais.
Com certeza, os momentos mais intensos vivenciados pelas crianças aconteceram na sala de Maurício Ianês, que exibia ali a obra “O Vínculo”, uma instalação repleta de painéis brancos, tintas e comidas, que podiam ser manuseados à vontade. Max e Leon definiram o espaço como o lugar em que se “podia fazer qualquer coisa com o corpo dele (Maurício), com o seu próprio corpo e com a sala, menos com as paredes!”. Foi ali que eles desenvolveram atividades relacionais intensas, desde papos com o artista e com os visitantes, a divertidas guerras de tinta.
Em vários outros momentos, nas áreas da exposição reservada à mostra retrospectiva de Marina, Max e Leon se debruçaram sobre o acervo de imagens e experimentações da artista. Havia vídeos históricos, projetados nas paredes, e eles passavam horas observando aqueles registros impactantes do início de sua trajetória. Meu exercício era não gerar qualquer tipo de impedimento, assim como estar presente para mediar a percepção de ambos, que adoravam interagir com os “objetos transitórios para uso humano”, como peças de cristais de vários tipos, camas, cadeiras, bancos, incrustados com pedras de quartzo. Tudo era energético e as crianças ficavam concentradas, vivenciando maravilhadas o acervo da artista.
No dia a dia, como habitués, eles foram fazendo parte do próprio imaginário da mostra. Funcionários do SESC, os fotógrafos do evento, e todos os artistas em exposição ficaram íntimos dos meus pequenos. Eles cumprimentavam todos, se movimentavam à vontade e ocuparam também a sala do Grupo EmpreZa. Lá se desenvolvia o projeto “Vesúvio”, onde os artistas do coletivo matinham uma espécie de ateliê aberto, em que desenvolviam atividades de criação e experimentação em performance. Max e Leon manipularam vários dos materiais dispostos pelo espaço, como ossos secos, ferramentas rústicas, tijolos, velas, incensos, entre tantas outras coisas. Esses “miniempreZários”, como foram chamados pelos artistas do grupo, brincaram de performance em vários momentos. Inclusive, tive que comprar paletó para eles, a pedido dos artistas, que queriam vê-los caracterizados formalmente durante as interações lúdicas.
Foram inúmeras as inquietações provocadas durante esses dias vividos ali. Vários amigos acompanharam de perto (ou mesmo de longe) as imagens que foram publicadas, enquanto vivíamos intensamente aquela impressionante Terra Comunal. Ainda estamos digerindo essa experiência. Em casa, Leon se põe em “postura de performance”, deitado no chão, olhando de outra forma para os objetos cotidianos. Às vezes, também o pego dobrando suas roupas com um olhar distante, de quem está buscando construir um novo significado para um simples momento de ficar deitado no chão, ou no jeito como organiza os brinquedos. Max traz, a toda hora, várias questões filosóficas sobre o corpo: “Por que sangramos? Por que a gente sente fome? Por que o corpo dói? Por que usamos roupas?”. Uma curiosidade sem fim..
No total, foram 40 dias repletos de experiências que ainda latejam em mim e sei que irão gerar reflexões importantes para o amadurecimento de todos – e principalmente das crianças.”
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