Thomas Power, da Pura Aventura:

Acampamento no Lake District (Reino Unido) era um programa frequente na minha infância. Casa de campo na França, ocasionalmente. Voar para algum lugar mais distante? Uma ou duas vezes. As férias em família eram ótimas, com muito ar puro e atividades ao ar livre, mas nada exóticas. Patagônia? Essa região remota do planeta, para os meus pais, significava uma verdadeira expedição e não um destino-família.

E, no entanto, quando senti uma vontade incontrolável de voltar à Patagônia, em abril, vi que só conseguiria seguir adiante com essa ideia se levasse meus filhos. Linda, minha esposa, deixou claro que não perderia essa viagem de duas semanas por nada. Então, lá fomos nós, uma família rumo a Patagônia. Durante os preparativos, me vi nervoso por dois motivos. Primeiro, era o fato de estar apresentando Linda ao Chile, país que amo. E se ela não gostasse tanto quanto eu? A segunda era pensar o que fazer por lá com os meninos. Com 10 e 8 anos, será que eles perceberiam o quanto eram privilegiados por terem uma oportunidade dessas?  

A viagem, em si, começou na cidade portuária de Puerto Montt, de onde dirigimos rumo ao sul, em um 4×4, na Carretera Austral, através da região de Aysén, percorrendo mais de 1.000 km de estradas pavimentadas e (mais tempo nas) não pavimentadas. Aysén tem a metade da densidade demográfica da Mongólia. Basta dizer que é uma paisagem intocada repleta de florestas, lagos, fiordes, cachoeiras, geleiras, montanhas e rios. Um espetáculo.

E fizemos um pouco de tudo: cruzamos uma floresta temperada (e intocada) no Parque Pumalín, perto de Chaiten, com meu filho de 10 anos de idade dizendo: “Esta é a caminhada da minha vida”.  Seguimos pulando de fontes termais em fiordes gelados, em pleno Pacífico. Caminhamos debaixo da chuva para ver uma geleira emergir sob a cobertura de nuvens, apenas para nós. Perdemos o nosso ferry, e enquanto tentava me acalmar com a perspectiva de seis horas adicionais em estradas não pavimentadas, Linda me assegurava que ela e os meninos estavam totalmente relaxados. Pegamos um barco em um lago azul cristalino para visitar cavernas recortadas em pedra mármore. Percorremos paisagens desérticas para encontrar pinturas rupestres antigas. Fizemos rafting em um rio bravo e piquenique em uma geleira. Comemos juntos, tarde da noite, na estação dos bombeiros de Coyhaique – um lugar surpreendente! Madrugamos para ver os côndores voarem sobre as nossas cabeças. De fato, não é um feriado tradicional em família.

Claro, tivemos nossas brigas. Perto do final da viagem, os meninos estavam menos dispostos a fazer uma nova caminhada. Houve momentos em que Linda e eu ficávamos absolutamente estarrecidos com a paisagem que nos rodeava e os meninos mantinham as cabeças enterradas em algum livro ou jogo.

A questão é que procurei fazer o meu melhor para deixá-los ter suas próprias experiências na Patagônia. O resultado? Ambos adoraram, claro e listaram os ´top 10`: a geleira particular, a tirolesa e o rafting também. Outros destaques foram mais surpreendente: uma floresta quase intocada, a caminhada encharcada até uma geleira…  Sem dúvida, alguns momentos ou detalhes, eles perderam. Mas as coisas grandes, a essência desse lugar mágico, eles absolutamente compreenderam“.