Carla Campinho e Rodrigo Zuhke, ambos executivos e trabalhando em grandes empresas, sonhavam em ter uma escola. Mas não uma escola qualquer – eles queriam uma creche bacana, diferente, onde a relação com o espaço fosse extremamente prazerosa e afetiva. Encontraram em uma casa ampla em Botafogo, zona sul carioca, o endereço ideal. Grande, antiga, com um pátio no meio, tinha tudo para se tornar um oásis para viabilizar o conceito idealizado, que pretendia unir pequenos de diferentes idades em ambientes amplos, voltados para a área externa central. Convocaram as arquitetas Patricia Batista (da B.Coarquitetura) e Carla Dutra (Studio Griz) – que se conheceram no escritório de Bel Lobo e Bob Neri – para tocar e desenvolver o projeto. E o resultado não poderia ser mais lúdico e encantador.

_ Carla e Rodrigo ficaram um ano procurando o endereço certo para essa empreitada. Participamos dessa busca com eles. O principal era conseguir uma casa com espaços amplos, justamente para ir na contramão das creches que são sempre muito confinadas e sem luz natural _ explica Patricia.

Outro conceito importante na Despertar é não ter salas definidas por idades: os ambientes são compartilhados e, no primeiro piso, ficam as crianças mais crescidinhas (a partir de 3 anos).

_ A ideia foi incentivar a autonomia dos pequenos. Uma sala é de música, outra de artes. E eles podem, de certa forma, escolher a atividade que querem fazer e se deslocar por ali. O pátio hoje tem uns boiões e muita brincadeira com água. No futuro, o muro vai ter uma hortinha vertical para eles se sentirem incentivados a mexerem nas plantas _ diz Carla.

Como a planta da casa faz um U, o pátio no meio tem grama e um clima gostoso, trazendo luz natural para as salas que o circundam. No térreo, a escolha das arquitetas foi usar cores primárias nas paredes e na marcenaria – como o verde, amarelo e laranja. Mesinhas e cadeiras são desenho delas, que também trouxeram a ideia dos painéis redondos (em fórmica) recortando as paredes – funcionando como bases para colocar os desenhos da galerinha.

_ Fizemos cabideiros na altura das crianças e a estante foi moldada com compensado e fórmica colorida, material bem resistente para um uso intenso. Todas as quinas são arredondadas, outro cuidado importante, para evitar machucados. Essa forma orgânica, por sinal, conceitua todo o projeto, inclusive as janelas em forma de escotilha. O piso é emborrachado, imitando a textura da madeira _ revela Patricia.

São muitas as sacadas bacanas: na sala de artes, as paredes receberam azulejos (30 x 60 cm) até 90 cm de altura, para as crianças conseguirem riscar – e limpar – à vontade. Tem bancada com pia e muita tinta. O “splash” desenhado na parede (das salas e do banheiro) repete a identidade visual da Despertar, onde arte e criatividade são peças-chave. Outro ponto alto é o refeitório, com mapa enorme da Mapateca apontando as comidas típicas de cada lugar – uma graça – e a parede em frente ao balcão da cantina forrada de lousa.

_ A bancada do fundo tem duas alturas: uma parte para as crianças e outra, mais alta, para os professores. Até no banheiro, pensamos as divisórias com pequenos furinhos, divertida, para as crianças conseguirem se comunicar. Foi uma delícia desenvolver esse projeto, colocamos uma piscina de bolas embaixo da escada, e pintamos a parede com bichos que parecem estar subindo para o segundo piso (pintura de Pedro Henrique de Souza Paiva, artista da Rocinha), onde ficam os bebês.